segunda-feira, 1 de maio de 2017

Baton vermelho



Baton vermelho


Se há cor que, decididamente, não se despega nunca do corpo de Rita é o vermelho! 

Desde miúda que lhe apraz a garra, a raiva, o inconformismo, a independência, a determinação e a liberdade que o vermelho lhe sugere e aporta!

Modelitos, carteiras, sapatos, um ou outro guarda chuva e adereços...sempre existem em vermelho no seu guarda roupa, pois essa é a cor que mais condiz com a sua forma de ser e estar na vida! Se tiver que optar entre varias cores...escolhe, inevitavelmente o vermelho, muito embora nao desconsidere outras cores, sobretudo as mais vivas e exuberantemente coloridas e invulgares que gosta de combinar religiosamente com o seu outfit!

Exceptuando os amores, Rita sempre gostou de ter tudo em dobro ...ou até mais! Por isso, là estavam numa caixa delicadamente colorida com florinhas do campo, um numero infindável de batons e vernizes que oscilavam entre o "rosa choque" e o "bordeaux", predominando, claro está, alguns tons de vermelho que Rita comprava de diferentes griffes francesas, tentando ajustar o vermelho vivo à sua cara de boneca!

Naquela tarde, lembra-se muito bem...tinha colorido os seus lábios com um baton Christian Dior que além do hidratante acetinado, tinha um tom que nao só realçava o seu rosto abolachado mas...e sobretudo, coloria o seu sorriso franco e aberto quando soltava uma gargalhada!




Entrara há pouco na sala de trabalho para ultimar uns documentos! Nao tardou muito Pedro chegou, nao porque Rita estava là... nao porque soubesse que Rita o tinha como companhia desejável e completamente insubstituível...nao porque...

Rita nem sequer sabia! Também nao era importante...Pedro sentara-se, de imediato, em frente a si e começaram a conversar do trabalho e de algumas novidades da imprensa do qual, muitas vezes, trocavam pontos de vista,  afortunadamente, nem sempre coincidentes!

E naquela manhã era mais um momento de alegre e entendivel dialogo entre Pedro e Rita que há muito sabiam gostar da companhia um do outro, sem no entanto, nunca o terem expresso por palavras...pois afinal as palavras,nestes e noutros casos, ficam a dever muito aos olhares!

Rita reparou...Pedro olhava-a no seu jeito de pessoa agradavelmente ternurento e sempre delicadamente estonteante na elegancia dos seus gestos...na sua voz macia de encanto que decididamente seduziam Rita, sempre muito atenta porque era uma  apreciadora da meiguice enorme que Pedro transportava em si e que, provavelmente, mulher alguma, antes dela, reconhecera de um modo tão profundamente sentido, como ela o vivia!

Pedro era surpreendentemente, um ser humano demasiado bonito para a deixar indiferente desde que, num dia de setembro ido, tinha chegado à empresa...sentindo-se perdido no meio de tanta gente!

E foram-se aproximando em diálogos...misturando sorrisos sempre que se encontravam! Como naquela manhã de um sol radioso que trespassava as vidraças gigantes da sala, ...quando Pedro a olhou e lhe disse com uma candura que ainda hoje a faz sorrir de saudade...

O teu baton nao marca, quando dàs um beijo?
Rita parou um pouco o seu pensamento, sorriu e disse: "às vezes..."

Pedro nunca desconfiou...mas, nesse preciso momento, Rita se interditos nao houvera, dar-lhe-ia um grande, um enorme beijo vermelho que, por certo, marcaria o corpo e a alma de Pedro para toda a sua vida!

Porém, como a vida se vai enrolando de momentos inefáveis como este...

... Rita nao adormeceu o sonho de um dia dar um beijo de baton vermelho...que Pedro nunca, mas mesmo nunca mais tenha vontade de apaga-lo da sua cara adoravelmente morena!

Porquê? E que...



Adoro-te, my dear!




                                               Lola