sexta-feira, 25 de abril de 2014

Abril





ANTES DO DIA EM QUE A ESPERANÇA RENASCEU



Quem tem menos de 50 anos ainda não havia nascido ou era demasiado pequeno, nas décadas de 60 e 70, para saber o que significava viver com um ferro cravado na garganta e grilhões no pensamento. Às mulheres, então, estava legalmente interdito o exercício de algumas profissões, como a magistratura e a diplomacia, e era obrigatória a autorização do marido para se ausentarem do país.

Quem tem menos de 50 anos, era demasiado pequeno para se aperceber da angústia de uma família com um filho ou um marido numa guerra que ninguém sabia ao certo para que servia, a quem servia.

Desconhece o que representava comprar às escondidas um jornal, o velhinho "República", então já com 62 anos de existência após a sua fundação em 1911 por António José de Almeida, o médico loquaz e republicano laico que viria a ser presidente da República em 1919.

Quem hoje tem menos de 50, não pôde sentir a amargura de viver no medo de ser denunciado à Polícia política pelo vizinho, pelo companheiro de trabalho, pelo amigo ou familiar, só porque exprimia o seu pensamento, o seu ideário político, a sua concepção de sociedade, a sua revolta por um regime que o inibia de ser livre de se expressar politicamente, o proibia de comprar os livros que quisesse ou de ouvir cantigas que os censores consideravam subversivas.

A queda do regime, essencialmente, devolveu aos portugueses o direito à liberdade de opinião e expressão.

Mas agora, quando existem claros indícios de que a liberdade de imprensa está ameaçada e quando a privacidade dos cidadãos é cada dia menor, só faltando implantarem-nos na pele um “chip”, é urgente avisar todos os que não têm memória do passado de que viver sob o jugo de um regime ditatorial, seja ele qual for, é das situações mais dolorosas que podem acontecer a um ser humano.

Por isso, estarei sempre com os ideais generosos de Abril, serei sempre contra os poderes totalitários, sejam eles de direita, de esquerda, ou de mascarada democracia.
Alertarei enquanto puder dos perigos de nos deixarmos conduzir, procurarei sempre arreganhar os dentes aos falsos profetas, aos demagogos, aos travestidos de democratas que mais não são do que tiranetes legitimados pelo voto dos que preferem deixar-se pastorear em vez de fazer uso do seu direito à indignação.

Viver em liberdade responsável assim mo exige.

- um texto de Jorge P.G. Sineiro, 24 Abril de 2014


 Lola