ANTES DO DIA EM QUE A ESPERANÇA RENASCEU
Quem tem menos de 50 anos ainda não havia
nascido ou era demasiado pequeno, nas décadas de 60 e 70, para saber o que
significava viver com um ferro cravado na garganta e grilhões no pensamento. Às
mulheres, então, estava legalmente interdito o exercício de algumas profissões,
como a magistratura e a diplomacia, e era obrigatória a autorização do marido
para se ausentarem do país.
Quem tem menos de 50 anos, era demasiado pequeno
para se aperceber da angústia de uma família com um filho ou um marido numa
guerra que ninguém sabia ao certo para que servia, a quem servia.
Desconhece o que representava comprar às escondidas
um jornal, o velhinho "República", então já com 62 anos de existência
após a sua fundação em 1911 por António José de Almeida, o médico loquaz e
republicano laico que viria a ser presidente da República em 1919.
Quem hoje tem menos de 50, não pôde sentir a
amargura de viver no medo de ser denunciado à Polícia política pelo vizinho,
pelo companheiro de trabalho, pelo amigo ou familiar, só porque exprimia o seu
pensamento, o seu ideário político, a sua concepção de sociedade, a sua revolta
por um regime que o inibia de ser livre de se expressar politicamente, o
proibia de comprar os livros que quisesse ou de ouvir cantigas que os censores
consideravam subversivas.
A queda do regime, essencialmente, devolveu aos
portugueses o direito à liberdade de opinião e expressão.
Mas agora, quando existem claros indícios de que a
liberdade de imprensa está ameaçada e quando a privacidade dos cidadãos é cada
dia menor, só faltando implantarem-nos na pele um “chip”, é urgente avisar
todos os que não têm memória do passado de que viver sob o jugo de um regime
ditatorial, seja ele qual for, é das situações mais dolorosas que podem
acontecer a um ser humano.
Por isso, estarei sempre com os ideais generosos de
Abril, serei sempre contra os poderes totalitários, sejam eles de direita, de
esquerda, ou de mascarada democracia.
Alertarei enquanto puder dos perigos de nos deixarmos
conduzir, procurarei sempre arreganhar os dentes aos falsos profetas, aos
demagogos, aos travestidos de democratas que mais não são do que tiranetes
legitimados pelo voto dos que preferem deixar-se pastorear em vez de fazer uso
do seu direito à indignação.
Viver em liberdade responsável assim mo exige.
- um texto de Jorge P.G. Sineiro, 24 Abril de 2014
Lola
Lola