sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mãe



Mãe

Mãe:

Que desgraça na vida aconteceu,

Que ficaste insensível e gelada?

Que todo o teu perfil se endureceu

Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa

Cansada de palavras e ternura,

Assim tu me pareces no teu leito.

Presença cinzelada em pedra dura,

Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.

Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.

Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes

Por detrás do terror deste vazio.

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim!

Diz que me vês ainda, que me queres.

Que és a eterna mulher entre as mulheres.

Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga





Eu que tantas vezes falei e reflecti a finitude humana em

contexto de sala de aula ... 

quando partiste mãe 

eu senti 

tudo aquilo que o poeta, 

tão doce e cuidadosamente,

 expressou no poema!


                                            Lola