Soneto
de amor
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua
boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em
duas bocas uma língua..., — unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois...
— abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José
Régio,
in “Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, Eugénio de Andrade”
Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É
a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em
toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por
intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um
prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.
Fernando Pessoa
Lola