quarta-feira, 2 de abril de 2014

Malmequer




Malmequer

Naquela noite de prémios de mérito recebi um malmequer das tuas mãos! 
Voltou o meu sorriso de infancia, a minha alegria do reconhecimento pelo gesto cumplice no meio de toda aquela gente ali presente tão distante de cada um de nos! Fiquei como uma estrelita brilhante que vive là longe olhando intermitentemente o infinito dos meus sonhos!
Naquela noite, na pétala de um malmequer, ficou gravado um olhar sentido, generoso, profundo e transparente: GOSTO DE TI!








O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele


  O meu olhar é nítido como um girassol. 

Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda, 
E de, vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, 
E eu sei dar por isso muito bem... 

Sei ter o pasmo essencial 
Que tem uma criança se, ao nascer, 
Reparasse que nascera deveras... 
Sinto-me nascido a cada momento 
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer, 
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender ... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ... 
Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar... 

                                                                  


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema II"









O malmequer que arrancaste

O malmequer que arrancaste
Deu-te nada no seu fim,
Mas o amor que me arrancaste,
Se deu nada, foi a mim.
s.d.

Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). 
 - 45.




 Lola