terça-feira, 1 de abril de 2014

O Mar e a espera

ROOTS PORTUGAL!!! Nazaré- Anos 60 ...



O Mar e a espera



Barco Negro – David Mourão-Ferreira

De manhã, que medo, que me achasses feia!

Acordei, tremendo, deitada n’areia

Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

Vi depois, numa rocha, uma cruz,

E o teu Barco Negro dançava na luz

Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,

Que nem chegaste a partir,

Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu’estás sempre comigo.[Bis]

No vento que lança areia nos vidros;

Na água que canta, no fogo mortiço;

No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

Escrito em  1954 para uma música já existente do brasileiro Caco Velho. 



Como esta...

...existem esperas que 

se fazem de partidas sem regresso!






Interpretando...


- o poema inicia-se em retrospectiva, na praia, na manhã após a consumação do amor entre o casal.
- "vi depois numa rocha uma cruz..."- a cruz é um prenúncio de morte; o pescador não voltou mas a amante pensa vê-lo no reflexo chegante do sol no mar. E recusa-se a acreditar na evidência que apontam as viúvas da praia...
- "eu sei que nem chegaste a partir..."- a mulher sabe, agora, que o amante não voltará mas diz a si mesma que tudo está igual porque ele está com ela, como sempre esteve.
   - o vento, a areia, a água, o fogo... todos os elementos da natureza lhe lembram o amante      perdido porque ele vive dentro dela.






A quem interessar:

http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_03/N2/Vol_iii_N2_293-308.pdf




Lola