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ROOTS PORTUGAL!!! Nazaré- Anos 60 ...
O Mar e a espera
Barco Negro – David Mourão-Ferreira
De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n’areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu Barco Negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu’estás sempre comigo.[Bis]
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
Escrito em 1954 para uma música já existente do brasileiro Caco Velho.
Como esta...
...existem esperas que
se fazem de partidas sem regresso!
- o poema
inicia-se em retrospectiva, na praia, na manhã após a consumação do amor entre
o casal.
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- "vi
depois numa rocha uma cruz..."- a cruz é um prenúncio de morte; o
pescador não voltou mas a amante pensa vê-lo no reflexo chegante do sol no
mar. E recusa-se a acreditar na evidência que apontam as viúvas da praia...
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- "eu sei
que nem chegaste a partir..."- a mulher sabe, agora, que o amante não
voltará mas diz a si mesma que tudo está igual porque ele está com ela, como
sempre esteve.
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- o vento, a areia, a água, o fogo... todos os elementos da natureza lhe lembram o amante perdido porque ele vive dentro dela.
http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_03/N2/Vol_iii_N2_293-308.pdf
Lola